Quando alguém nos cai no colo vindo sabe-se lá de onde e marca a diferença, cativa e baralha o sistema todo, instala-se o medo. Medo involuntário, mas aterrador. Medo que é produto inerente a todas as desilusões, más experiências e quedas da vida. É uma sensação de perda de controlo, de incapacidade para gerir as informações e para saber "jogar" através das teorias e lições que já eram dados adquiridos. Eu detesto não ter controlo, não saber o que dizer, como reagir. Sinto-me completamente impotente, mas feliz e curiosa, tipo criança. E ouço coisas que me fazem suspirar, e acreditar que tudo vai correr bem. Porque quero que corra bem, quero genuinamente parar de pensar nos "e se" e nos "mas". Só que às vezes parece impossível. E apercebo-me do quanto mudei, das defesas que ergui, dos muros que construí à minha volta, que acabam por apagar certas facetas minhas. Sei também que todos os motivos que me levaram a isso são legítimos. Faz parte deste processo de construcção, de limar as arestas do meu carácter. Mas recuso-me a deixar que todas estas máscaras me definam, e principalmente, que definam a minha conduta e me impeçam de tentar, de arriscar, de tentar alcançar uma estabilidade que eu também mereço. Acho que, bottom line, estou sinceramente cansada. Farta de dar uma imagem que não corresponde aquilo que tenho para dar. Tenho tido muita sorte na vida, tenho orgulho de tudo o que alcancei até hoje, e sei muito bem quem sou. Conheço todos os meus defeitos, sem que não tenho jeito para sentimentos e que o meu mau feitio é um tema sensível. Conheço também as qualidades, o meu lado paternalista, a minha dedicação a quem gosto, o meu sentido de humor (estranho mas em progresso!). O problema é exteriorizar isso, o meu lado racional sobrepõe-se sempre, mesmo quando eu quero algo mais do que qualquer coisa no mundo. Mesmo quando o meu instinto (que por acaso nem é conhecido por ser excelente!) me diz que algo muito bom e promissor está mesmo à minha frente. Mas, lá está, life without constant challenges is boring.
Por isso, um dia deixo de ter medo, um dia deixo o filtro de lado. Um dia confio em tudo, ouço e acredito, cegamente. Sem medo da queda, com fé e coragem para aproveitar cada momento sem olhar para as eventuais desilusões do futuro. Prometo, pelo menos, tentar.
Honey, assiste a "Before Sunrise", "Before Sunset" e "Atonement"... São filmes que nos ensinam que a vida é aqui e agora. Acerca do poder semanticamente nefasto do "quase", ver o poema em http://www.poemas-de-amor.net/o_quase.
ResponderEliminarExiste um meio-termo entre ficar na beira do abismo olhando para baixo ou saltar de olhos fechados. É amarrar uma corda bem segura e ir descendo o penhasco devagar, curtir a vista ao redor, e depois que descer, orgulhar-se do desafia vencido.
Enfim, sei que não ajuda muito,mas ouça a voz da experiência (risos). Não se obrigue ao êxito. Obrigue-se somente a morrer tentando, pois a glória da batalha não está na vitória, mas na razão pela qual se luta.
Paz e bem.
Muros e “ses” fazem parte de quem és. Assim como os teus defeitos. A questão não é anulá-los porque isso seria perderes genuinamente uma parte de ti, que pode não ter existido sempre mas que hoje faz parte de quem tu és. Chama-lhe experiência e aprende a configurá-la, a dirigi-la e a modelá-la conforme o teu interesse. Se te apetece entrar de cabeça, entra. A tua experiência também já te deu bagagem suficiente para saber como detectar pequenos sinais e contorná-los, assim como já te ensinou que o amanhã existe sempre e “quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio”.
ResponderEliminarSentimentos estóicos não fazem sentido. Não há nada mais maravilhoso no mundo do que largar a primeira pessoa do singular e passar a usar o plural na tua própria definição. Se esse plural tiver de ser efémero, seja. Passa a ser mais uma peça da tua experiência. Uma cicatriz que não vai doer sempre. E há-de chegar o dia em que o plural assenta definitivamente e as cicatrizes já só te fazem sorrir – são memórias umas mais salgadas, outras mais doces que vão ficar guardadas nos perdidos e achados empoeirados da tua vida.
Boa escolha a do Seth e da Summer. Ela também tinha barreiras. Também se tinha auto-construído para mostrar aos outros uma pessoa diferente daquilo que realmente era. E cedeu…
HIPOTETICAMENTE EU VOU GOZAR TANTO CONTIGO. É que hipoteticamente... alguém anda a pairar nas nuvens!
ResponderEliminarE um dia, Mary, um dia é O dia, O dia em que as coisas só fazem sentido quando são partilhadas, quando a pessoa que escolheste para derrubar muros, inseguranças e medos caminha ao teu lado. Nem à frente, nem atrás, ao teu lado, passo a passo. Numa partilha diária, num jogo de cumplicidades e vitórias.
Hipoteticamente, alguém é mais importante do que se esperava! Fico feliz por ti!
California, here we come!
ResponderEliminaro texto está fantástico Maria, já para não falar que parecia estar a ler uma descrição minha. gostei muito!
ResponderEliminarTodas as defesas e muralhas que erguemos servem como nosso porto de abrigo, o nosso cantinho no qual só nós podemos confiar, permite-nos ter aquele momento especial, diário e importante.
ResponderEliminarGrande parte das pessoas dedica, no mínimo, 5 minutos por dia para pensar na vida, no que fez mal, no que fez bem, no que pretende mudar, no que queria voltar a repetir... a grande diferença é que grande parte das pessoas não se apercebe que utiliza esses 5 minutos, se pensássemos realmente em tudo, não seria bom conhecermos os nossos defeitos e virtudes?
Apesar de tudo isto, haverá um dia em que surge algo ou alguém que nos elimina as defesas, destrói as muralhas e nos permite revelar o nosso íntimo, sempre será assim, e é nesse momento que percebemos quem somos.
Para mim, a tal máscara de que falas não passa da nossa pessoa incompleta, vivemos ambiciosos, dedicados, orgulhosos, mas falta sempre algo, há sempre mais para alcançar e descobrir, e só nesse momento é que a máscara cai e se parte.
As tuas reflexões têm sido os meus 5 minutos diários, provavelmente nem teria pensado em tanta coisa nos últimos dias senão fossem estes textos, obrigado.
beautifully written ;)
ResponderEliminarProvavelmente já ouviste falar de inteligência emocional...Acho que o teu texto é um pouco acerca disso...ela costuma levar-nos às pessoas mais importantes que "coleccionamos", quer as guardemos ou não.
ResponderEliminarpandora.3@hotmail.com
Um dia não são dias
ResponderEliminarEncontro-me no mesmo patamar que tu, com medo e rodeada de todas as muralhas que as quedas da vida me obrigaram a construir. Contudo, acho que o meu lado emotivo sobrepõe-se ao racional e eu não gosto disso nem um pouco. Preferia, de vez em quando, agir com a cabeça em vez do coração.
ResponderEliminarE ainda assim, hoje foi muito bom poder ler-te e ver as imagens com que terminaste, tornando o teu post num excelente post!
A série The O.C, deixa saudades de morrer, bem como essas duas personagens: "seth and summer".
Parabéns *
C. (carolina, facebook)
Daqui Rui Esteves Nogueiro Pinto. ao que parece os meus conselhos de literatura bonita e épica em vésperas de entregas de trabalho foram fulcrais para a construção do teu ser lol. Muito bem escrito e profundo :) vê lá se vens a Lisboa e avisas o Rui Esteves Nogueira Pinto com antecedência!
ResponderEliminarNota: Quem serei eu se não conheces um Rui Pinto!!???
Lindo, parabéns grande texto!
ResponderEliminarNunca se esqueça que existe um caminho que vai dos olhos ao coração sem passar pelo intelecto. Há que descobri-lo.
Parece-me que vai no bom caminho...
Eu sou assim. Penso no que posso controlar, para poder ser à minha maneira. Não que goste de tudo o que faça, mas gosto ter controlo da minha vida. Nunca ninguém controlou a minha vida, sempre fui eu a decidir o que me faz feliz. Estou contigo, um dia vou-me soltar e vou deixar que alguma coisa mude a minha maneira de pensar, mas se sou tão feliz assim, porque é que vou mudar?! Mas será que sou mesmo feliz? a verdade é que nunca estive realmente triste, e isso sei, porque nunca deixei. Mas agora é uma questão de decidir, vou ficar sempre assim, "feliz", ou deixo-me levar e arrisco-me a ficar deslumbrada com a vida, ou arrisco-me a sofrer grandes desilusões. Mas sem duvida que a vida assegurada não tem piada e não tem adrenalina, por isso um dia vou arriscar e vou deixar os meus medos de fora. Mas espero que quando o fizer, faça pela pessoa/situação certa!
ResponderEliminarBom texto!
Adorei... Percebo muito do qur dizes, ainda que sinta o muro a crescer dia apos dia... Beijo (adorei o blog vou seguir)
ResponderEliminarDiariodemimgirlchic.blogspot.com