quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Of Faith (not religiously speaking)

A fé é algo muito pessoal. Algo universalmente conhecido, mas muito próprio. E extremamente volátil. Quando acreditamos com muita força, e algo abala essa crença, seja no que for, é muito difícil voltar àquela relação de confiança original. A fé move montanhas, é certo. Aguenta tudo. Concede persistência, coragem, vontade, esperança. Faz-nos seguir em frente, mesmo quando tudo parece não fazer sentido. Mesmo quando achamos que não há solução. Lá vem ela. Dá-nos aquele empurrãozito e sussurra "não desistas já". Afasta a impotência, a dúvida, a ansiedade, a angústia. E sabe bem. Ter aquele porto seguro num cantinho da consciência, que não nos deixa cair perante as adversidades. Estabelece uma base de conforto só nosso, definido por nós, à nossa maneira, segundo as nossas necessidades. E depois? Quando tudo sai ao contrário, quando os recursos se esgotam, quando nos vencem pelo cansaço, quando a esperança já foi de férias, quando os happy endings decidiram ficar-se pela Disney? Como é? Agarramos-nos a quê? Pois. Aí já ardemos. E desejamos nunca ter tido fé. Desejamos poder voltar atrás e desistir naquele momento de aviso. E rogamos pragas à fé. Chamamos-lhe nomes feios, praguejamos e esbracejamos. Onde está ela quando a malta se agarra à almofada e chora durante horas, ou quando não conseguimos dormir uma noite seguida? Hein? Pois é. Não está. Don't get me wrong. A fé é algo que eu considero indispensável à saúde mental de qualquer ser humano nos dias que correm. E ajuda muito. Mas quando as coisas dão para o torto, a única réstia de fé que se mantém é que tudo ficará bem. Que o tempo cura tudo. Que amanhã é um novo dia. And all that bullshit. Que serve de quê? De alento? Talvez. De apoio? Talvez. Mas não apaga o que está feito. Não consegue evitar que as feridas se abram. Não consegue evitar a falta de ar, e a falta de sono e fome, sem falar na capacidade de concentração. Na minha opinião, em certo tipo de assuntos, um aviso prévio não faria mal nenhum. Só uma notificação, do tipo "pensa duas vezes antes de ires por aí", "maybe it's time to let go", nessa onda. Não? Obrigadinha. 
A fé devia ter limites. Tipo, o de velocidade. Quando vamos ali na A5 a 160, não quer dizer que não tenhamos à nossa diposição as plaquitas a dizer 120. Mas é uma escolha. Estamos conscientes das implicações da nossa infracção. Das consequências. Em tudo o resto, não. Não há placas ou notificações. E depois dá-se a queda. E dói tudo. E pensamos imediatamente "Eu tive tanta fé, pus tanto de mim nisto, acreditei com todas as células do meu pequeno ser, e este é o retorno? Seriously?". E depois vem a velha máxima de que o que tem que ser tem muita força. Força contra a qual é quase impossível lutar.
Portanto, guess what I have to say is: Fuck You Faith.

Sincerely,
M*


4 comentários:

  1. <3 é o que tenho a dizer. tá lindo e explica muita coisa. ly. keep your faith, it will get back to you one day.

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  2. Este texto tá qualquer coisa de magnífico!

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  3. Admirável texto! Brilhante mesmo!
    Concordo com tudo o que diz, mas nunca o conseguiria escrever de uma forma tão perfeita.

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  4. Estou em crer que este é um dos textos mais "pessoais" que já li. Nota-se aqui que há sentimento nas palavras, há uma enorme carga emotiva apesar de nos ser apresentada uma visão mais "racional" da coisa. Os meus parabéns :)

    R

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