quarta-feira, 23 de março de 2011

Finalmente #2 The Speech

"De forma consciente, a oposição retirou ao governo todas as condições para continuar a governar." - As condições para governar, nunca as teve. Lamento. E já que os eleitores tiveram a inconsciência de escolher o seu governo, ao menos que o resto da classe política se mexa, em vez de andar sempre em competições parlamentares diárias em torno de deboches satíricos às questões mais importantes do futuro do país.

"Em 1º lugar, esse programa (FMI) tem consequências profundamente negativas para a imagem, o prestígio e para a reputação nacional. Há toda uma diferença entre um país que se propõem resolver os seus próprios problemas e um país que tem que recorrer à ajuda externa para acudir aos problemas que não consegue resolver." - Portanto, aquilo que é mesmo importante é ficarmos bem na fotografia certo? Mesmo que isso empate constantemente as estratégias necessárias para sair deste buraco. Livre-nos Nosso Senhor de alguém pensar mal de nós ou acharem que não somos capazes de resolver as coisas através do diálogo político. Guess what?? Oh...afinal não somos. Afinal não podemos usar o título de "orgulhosamente sós". E eu que achava que o vintage estava na moda. Sinceramente...E só em 2º lugar é que este programa afecta de maneira muito profunda as famílias e empresas. Em princípio, tem as prioridades bem definidas, para quem se preocupa taaaaannnttooooo com os portugueses. Mas a saga continua...

"Mantive total disponibilidade (...) para negociar os ajustamentos que fossem necessários para a verificação de um consenso que salvaguardasse o interesse nacional." - Já ninguém o quer ouvir, quanto mais conversar consigo. Consenso? Neste governo? Em que cada um puxa a brasa à sua sardinha? Salvaguardar o interesse nacional é algo que já passou para segundo plano, não me venha cá com histórias.

Fala ainda do seu constante "apelo à responsabilidade". Ok, neste momento, um miúdo de 5 anos é mais responsável e competente que o senhor. Portanto, aquilo que aconteceu foi que o senhor se fartou de apelar e ninguém lhe ligou nenhuma. Txiii....não gostam mesmo de si.

"Porque uma única razão explica esta crise, e essa razão é sofreguidão pelo poder, a impaciência pelo poder. (...) Quando o interesse nacional deveria estar acima de qualquer outro interesse, há quem não hesite em colocar o interesse político-partidário acima do interesse nacional." - Coitadinho, fez tudo o que pôde e a paga que recebe é ser escorraçado do seu cargo por forças maléficas e invejosas, que enveredaram numa "Caça ao Homem", e deram a volta ao sistema para se vingarem de si. É pessoal, claro está. Uma cabala contra o proclamado "Salvador da Pátria". Pronto, já passou....Pff.

"(...) Um governo que, quero recordar, está em funções em resultado da única fonte de legitimidade das democracias: a vontade do povo." - Ora bem, lição de regimes e sistemas políticos. Em democracia, a malta vota para legitimar os governantes. Até aqui é fácil. Pior mesmo, é quando aqueles que votaram em Vossa Excelência se apercebem do crasso erro que cometeram. E olha só para mim,de consciência limpinha, a brilhar.

"Já não se trata de obstruir a acção do governo. Tratou-se, isso sim, de bloquear o nosso país. (...) Esta crise política era evitável. Bastava haver espírito de diálogo. Esta crise era desnecessária, visto que nem sequer havia qualquer imposição legal de votação no PEC. E esta crise é totalmente inoportuna. É provocada no pior dos momentos." - Vamos por partes. O país está bloqueado já há algum tempo. O que se passou hoje é um passo bastante importante para o caminho do desbloqueamento. A acção do governo bloqueou o país, logo...não é preciso ser um génio. A obstrucção ao governo, como o senhor referiu à pouco na sua brilhante ode à sua performance em cumprimento de funções, tornou-se intolerável. E disso não tenha dúvida nenhuma. Pena que tenha demorado tanto tempo a chegar a essa conclusão. Depois, a crise política era o quê?? Evitável? Desnecessária? Meu caro, a crise política não foi criada hoje. Estava apenas disfarçada nas consecutivas discussões parlamentares em modo repeat, e na nova onda de manifestações sociais. A sua credibilidade está na lama, e não é desde ontem. Normalmente a crença no Pai Natal acaba ainda em tenra idade. Consigo passa-se a mesma coisa, só que versão "para maiores de idade". Espírito de diálogo é uma expressão que adquire um certo tom de piadinha, vindo da sua parte. Principalmente quando diz que não foram apresentadas alternativas ao PEC. Reveja as suas folhinhas outra vez, pode ser que algo lhe ande a escapar. Se foram ignoradas ou não, isso é outra conversa. Bom, bom, é brincar aos PEC. Tipo colecção dos livros do Harry Potter. Ou, quiçá, d'Os Cinco. Só pa incluir a Ministra da Educação no jogo. Quanto à votação do PEC... a sério? Estava à espera de quê? Sinceramente? Ah já sei, que passasse. A sua capacidade de previsão também nunca foi especialmente estupenda...confirma-se.
Quanto à crise ser inoportuna, concordo plenamente. Principalmente porque amanhã não sei com que cara é que vai comparecer na cimeira. Mas também vergonha é algo que sempre lhe faltou por isso, standard procedure. Faça o que faz sempre, sorrir e acenar, sorrir e acenar.

"Pode haver quem pense que hoje obteve uma vitória no jogo político. Estreiteza de vistas.(...) E hoje, estou convencido, o país perdeu, não ganhou. Hoje acrescentaram-se dificuldades políticas às dificuldades económicas. Hoje a irresponsabilidade triunfou sobre o sentido de Estado." - Vitória mesmo será quando tivermos todos a certeza que para lá não volta. Quanto a estreiteza de vistas...hmm, vamos não falar sobre isso. Corro o risco de ser cruel. E eu não estou aqui para ofender muito quem quer que seja. Este espaço preza de vez em quando a ponderação linguística. Agora vamos a uma aula de português. "o país perdeu,não ganhou". Oxímoro, antítese ou paradoxo? Hmm, talvez só falta de coisas para dizer, só uma pitada de drama. Falando de dificuldades políticas, neste momento só consigo ter presente a facilidade que o senhor e o seu governo tiveram para brincar às medidas de austeridade. E ali na última parte, enganou-se. Eu penso que o queria ter dito era "A irresponsabilidade toldou-me o sentido de estado". Mas pronto, errar é humano. Não se martirize mais.

"A ansiedade pelo poder levou alguns a pôr em causa o interesse nacional. (...) Uma coligação negativa de forças políticas que nada mais as une a não ser a vontade de abrir uma crise política." - Lá está. Só para bater um bocadinho mais no ceguinho. Já ouvimos. A culpa é deles. A irresponsabilidade é dos outros. Mas enganou-se outra vez. Então José? Ah esqueça, acabou o curso a um Domingo, é normal que haja repercussões. Mas eu corrijo: "A ansiedade pelo poder levou-me a pôr em causa o interesse nacional." There you go, much better. Mentir é feio, mas não na sua terra pelos vistos. A coligação negativa apenas quis atirar umas pinceladas de realismo para o quadro negro e dúbio em que vivemos. Sem ressentimentos tá? Fairplay, acima de tudo.

"Tenho confiança na energia, na vontade e na capacidade dos portugueses. (...) Agora e como sempre, confio nos portugueses e no seu julgamento." - Sim, já toda a gente percebeu que se vai recandidatar e que a sua "campanha" começou hoje. Cheira-me que desta vez não será um caso de "sucesso de marketing político". Quando se perde a confiança das pessoas é tramado, senhor engenheiro. A memória dos eleitores está fresquíssima. Agora (e nunca mais, por favor), nem que mandasse vir a equipa do Obama. Por isso, a graxa dispensa-se.

E aqui está o discurso de demissão do PM. Espectáculo. Este homem até na despedida consegue ser inacreditável. Agora, Senhor Presidente, toca a aceitar a demissão. Vá, não dói.
Quem é a melhor alternativa? Não sei. E provavelmente nenhum deles é muito melhor. Mas por esta altura, o que interessa é mudar. E este é, sem dúvida, o mais inequívoco passo a dar. Vamos ter dificuldades? Sem dúvida. Mas enfrentá-las será certamente mais fácil com um governo no qual possamos confiar, ao qual possamos dar o benefício da dúvida, no qual possamos depositar a nossa fé, e ver os nossos interesses defendidos sem preocupações com "calculismos políticos".

P.S- Volta Manuela.

6 comentários:

  1. harlemsousa@hotmail.com23 de março de 2011 às 19:22

    Maria, embora eu não entenda a origem da crise por que passa o teu país, percebo que os políticos daí são tão incompetentes quanto os daqui do Império Colonial. Porém, os daqui, além de incompetentes, são de uma corrupção que até Deus duvida. Rouba-se às claras nos gabinetes, são maços de dinheiro vivo para lá e para cá, e quando são descobertos, apenas renunciam ao mandato e nada acontece. Pobre Portugal. Paupérrimo Brasil.

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  2. Volta Manuela e tragam também o Medina Carreira http://www.youtube.com/watch?v=Z44pHqjp6pc

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  3. Tinha a certeza que ias dar voz!! G'anda Mary, despacha-te lá com essa coisa do curso e arruma-os a todos, sim?

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  4. ESTUPENDO!
    Grande texto. Concordo com tudo o que diz.
    "Os tempos" estão pavorosos já não se sabe em quem acreditar. Nunca se mente tanto como em véspera de eleições, durante a guerra e depois da caça.

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  5. Totalmente de acordo.

    Ps- O Fio da Navalha é o meu livro preferido.

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